domingo, 7 de novembro de 2010

Detalhes e discursos.


Ela me escrevia partituras difícieis de entender. Me mandava cartas, flores, papeis de chocolates, doces coloridos(nenhum verde), ingressos de cinema, fotos, filmes, palhetas... Todos vinham com bilhetinhos, como, você me deu isso no dia tal, você adorava isso, isso aconteceu no dia tal, você ria com isso, você tocava tal música... Queria dizer a ela, eu me lembrava de tudo. Das balas, nunca verdes, que eu gostava; das músicas, dos momentos, dos filmes, das promessas... Queria dizer, mas não podia, por que ela pararia com tudo. Diria que sou indelicado, por que eu fingia não saber, não lembrar. Mas se eu falasse ela nunca poderia me lembrar como era o seu beijo, como era está perto dela, como era tocar aquela pele, como era a respiração dela, como ela era dormindo, como era a risada dela... Ela achava, não sei por que que eu a queria distante, eu a desejava tão perto de mim. Quanto mais ela sumia, mas eu a queria perto de mim. Queria ouvir aqueles discursos de 30 minutos que ela tinha decorrado sobre a política, o clima, os músicos, os barulhos, o cinema, as guerras... Eu lembrava daquele caderno cheio de textos, fotos, desenhos e polissindetos. Aquelas músicas escritas que eu cantava pra ela. Adorava sua voz e todos os seus discursos, mas normalmente sempre que eu a encontrava ela estava calada. Me lembrava tanto daquele rosto envergonhado.